Finalmente consegui, Insistente e teimoso sempre fizeram
parte do meu repertório. Paciente é algo novo. Paciente
para ser um paciente médico. Paciente para entender que
nem tudo é na hora que você quer. O escolhido não foi o
Emiliano ou Unique. Um simples e discreto hotel do centro.
E ao invés de uma suntuosa túnica ou um bem cortado terno,
Havaianas, jeans e uma puída camiseta do Campeonato
Sul-Americano de 2004 no Rio vestiam aquele homem
nem um pouco sério. Talvez você imagina isto pelo cargo.
Mas não, ao invés de sisudez, um bonachão cativante e de
sorriso largo. E não houve diálogo ou entrevista, mas sim
um monólogo que faço questão de reproduzir na íntegra:
"Calma, sei suas perguntas então vou te dar umas respostas.
Antes de mais nada, queria dizer que a torcida por ti é grande.
Parentes, amigos, judeus, católicos, pastores, espíritas,
homens da ciência, gente do bem. Até quem não acredita
em mim, mas acredita em você. A roupa simples porque
sou simples. E convenhamos, bem mais confortável que
um terno de grife. Quer um café? Eu sei que quer, mas
sou educado. Aqui está. Sou um só para cuidar de tudo.
Todos me chamam, rezam, oram, pedem o tempo inteiro.
Atendo a tudo e todos, principalmente vocês humanos,
minha invenção preferida. Mas é muita gente, muita coisa.
O assassino do Realengo, as placas tectônicas no Japão,
a instabilidade no Oriente Médio, os enfermos do mundo
inteiro, o buraco na camada de ozônio. Outros planetas,
o universo. E eu. Euzinho. Férias? Nem pensar. Mas não
estou reclamando, adoro o que faço, só que as vezes não
dá para cuidar de tudo, as coisas se acumulam, passam
desapercebidas e meu dasafeto se aproveita. E antes
que você me pergunte "mas por que eu?" eu já lhe
respondo: E porque não você. As coisas tem seu próprio
tempo para acontecer, e se eu te quisesse lá em cima
comigo, com seus pais, já tinha te levado. Quer ver o
quão mal você estava? Você pagou boa comida e bebida
a rodo para mais de cem pessoass, seu muquirana.
O que importa é que você está na minha pauta
e lhe garanto que tudo vai ficar bem. Tenha paciência,
continue lutando, fazendo o que é certo. Continue
crescendo e evoluindo. O tempo só a mim pertence.
E não uso barba branca porque além de coçar,
acabam me confundindo com o velho Noel".
A entrevista havia acabado. Segurei no braço da Ana,
minha fiel escudeira, e me fui em direção ao carro.